História

Dra. Rita Maira Zanine
1986 – Primeira Presidente do Capítulo do Paraná

Em 1986 ou 1987 houve um Congresso da Associação das Mulheres Médicas e eu apresentei um trabalho da colposcopia – a Dra HIldegard Stoltz  do Instituto de Ginecologia do Hospital Moncorvo Filho (RJ) estava na plateia assistindo os “temas livres”  – berço da colposcopia. Ela foi uma grande colposcopista, foi aluna do Dr. Hisselmann  era alemã e professora na UFRJ, na ocasião, ela assistiu a apresentação do meu trabalho, e quando eu estava saindo da sala, ela foi ao meu encontro e disse que gostaria de falar comigo. O Congresso Brasileiro do Rio estava marcado para dois meses à frente – ela me pediu para eu procurá-la, pois gostaria que abrisse o Capítulo no Paraná, e achava que eu era a pessoa certa pra começar o Capítulo. Então, após dois meses, eu fui para o congresso carioca, e lá a encontrei.

Estando lá, ela me falou o que eu precisava para fazer o capítulo. Teria que ter dez pessoas, e que seria muito importante fundar aqui em Curitiba, pois só existia o Capítulo do Rio Grande do Sul. Ela me apresentou para alguns professores que estavam no Congresso, que eram membros da Diretoria da Sociedade Brasileira de Colposcopia, dentre eles o Dr. HiIdoberto Carneiro de Oliveira. Ela falou pra eu tocar pra frente que ela me ajudaria. Ao retornar a Curitiba, onde ainda não havia colposcopista – somente eu e um professor da UFPR tínhamos a formação, e precisávamos de dez membros para a fundação do capítulo. Naquela época, eu trabalhava no Hospital e Maternidade Santa Brígida, fui conversando com os colegas que me encaminhavam pacientes para fazerem colposcopia. Eles deram, gentilmente, seus nomes para que começássemos o capítulo com o número sugerido para tal.

Então, montamos a primeira Diretoria do capítulo para o primeiro triênio para o qual eu fui a presidente. Os doutores: Dulcimary Bittencourt, Monica Valéria Vertuan e Ricardo Rossi também estiverem envolvidos nesse ato de fundação.

Implantei o Serviço de Colposcopia no Hospital Santa Brígida, onde eu atendia as pacientes com os residentes – naquela época, a Maternidade Santa Brígida atendia o convênio do SUS. Este serviço foi voluntário, e durante um ano os doutores acima citados realizaram o treinamento para o exercício da colposcopia. Naquela época o volume de pacientes era grande, tendo em vista o convênio com o SUS, o que promoveu um excelente aprendizado para os mesmos, bem como para os residentes do serviço. Reuniões clínicas abertas foram organizadas semanalmente – inclusive para os médicos integrantes do corpo clínico do hospital a fim de que pudessem ampliar seus conhecimentos sobre colposcopia e suas indicações, pois era um universo desconhecido pela maioria. Fizemos todo esse trabalho voluntariamente pensando em investir no capítulo e colher frutos mais tarde.

Terminado o primeiro ano de trabalho, com o trio Ricardo, Monica e Dulcimary, outras médicas vieram: Heloisa Werneck, Eloisa Goulart entre outras. As reuniões clínicas seguiram e a partir disso houve uma maior compreensão sobre a importância da colposcopia na prática ginecológica.

Tomando como base o Clube da Placenta, grupo de estudos que existia no Rio de Janeiro sob a coordenação do Dr. Jean Claude Naum e o Dr. Paulo Canella, criamos o Clube da Cérvice – uma vez ao mês eram feitas reuniões clínicas no hospital, e com isso eu criei um jornal que circulava a cada dois meses – era um boletim mais encorpado que tinha três ou quatro páginas, e que era encaminhado para os associados.

Então, como regra, era obrigatório o capítulo organizar um evento anual – começamos fazendo um evento chamado “Reciclagem” – que era destinado às pessoas que queriam se atualizar,  e também servia como preparatório para quem fosse fazer a prova do “Título”. Eram cursos pequenos que fazíamos no Hospital Santa Brigida, Hospital Santa Cruz, Hospital das Nações e na PUC. Nessa época,  o capítulo não tinha dinheiro em caixa – tudo era impresso – e nos primeiros anos, eu que paguei os impressos do capítulo – cartão, envelope, papel, enfim, para poder segurar esse capítulo.

Em seguida, começamos a fazer cursinhos, aumentou o número de sócios, e, o Ricardo ajudou muito para a economia do dinheiro, pois ele fazia os fôlderes no computador, cartazes, tudo artesanalmente – foram distribuídos para as pessoas, colados nos hospitais. Enfim, tudo foi feito no peito e na raça, pois não tínhamos estrutura alguma – a estrutura éramos nós quatro.

Em 1990 tivemos o “boom” do HPV, e chegamos a ter cento e cinquenta sócios no capítulo, ele ficou grandinho – fizemos um evento na Associação Médica – um evento no salão principal. Eu tinha acabado de voltar Estados Unidos, onde fiz meu doutorado, convidei o meu orientador para dar uma aula neste evento. Mas daí foi decrescendo, os sócios foram saindo, mas continuamos fazendo os cursos.

Em 2012, eu tive a ideia de fazer o Paranacolpo (em São Paulo o evento era o CERVICOLP) . Nós fazíamos o Clube da Cérvice – os laboratórios ofereciam um coffee à noite – mas tinha pouca frequência.

Então pensei em fazer um grande evento, mas apenas uma vez ao ano. Resolvemos fazer um evento bem bacana em 2012, na Sociedade Paranaense de Pediatria. Não tínhamos muitos inscritos, mas superior ao curso de reciclagem. Em 2013, fizemos Paracolpo II, que foi realizado no Nikko Hotel .

No final de 2012 eu fui convidada para dar aulas no “Trocando ideias”, no Rio de Janeiro, Observei que eles tinham um formato diferente de fazer cursos,  com muito dinamismo – as aulas eram mais curtas com duração de quinze minutos (naquele tempo as aulas costumavam ser de trinte minutos), depois os temas dessas aulas iam pra discussão. Tinha muita procura. Então, fizemos o mesmo esquema em 2013, eu trouxe quatro professores do Rio, muito “feras” porque eu já sabia que eles tinham uma boa interação entre eles.

Fizemos o evento no Nikko Hotel com agenda para quinta à tarde, sexta o dia todo e sábado pela manhã. Muitos inscritos. Hotel lotado. Esse evento foi um sucesso. Concluímos que essa era a fórmula certa: um curso com alta qualidade, convidados de fora, renomados e interativo – não como os cursos onde eram ministradas muitas aulas e onde ninguém fazia perguntas, como se fosse um monólogo. O Paranacolpo – a essência dele era o diálogo, e deu certo e continuamos anualmente. A colposcopia cresceu muito, e o evento passou a ser realizado na Associação Médica do Paraná, que conta com boa estrutura e localização estratégica.

O capítulo foi crescendo, e as outras Sociedades que não nos ajudavam e não nos valorizavam começaram a nos respeitar. Penso que a Colposcopia aqui no Paraná cresceu muito devido ao Paranacolpo.

A história do capítulo está também ligada aos quinze anos do curso de especialização, por mim coordenado dentro da UFPR. Todos os anos formamos dois médicos, e, desse modo fomos disseminando a Colposcopia, o que faz com que estes profissionais acabem ficando ligados ao capítulo, que são sócias até hoje – pessoas fiéis – colposcopistas “raiz” – que gostam realmente da colposcopia.

As chapas acabavam se repetindo – colocamos pessoas de outras cidades, mas nunca deu certo porque ficávamos nós quatro para resolvermos as demandas.

Pra chegar até aonde chegou, foi sangue, suor e lágrimas – foi muito difícil.  Se não for levado com seriedade, o capítulo morre.

Eu gostaria que o capítulo não morresse, que ele fosse adiante, que pessoas novas fossem renovando, fossem pegando e lutando por ele, porque acho muito importante – tem que ter uma régua, um padrão de qualidade na colposcopia, e a única forma de isso se manter é com a Sociedade, é com o nosso capítulo. Enquanto a Sociedade Brasileira existir, deve existir esse capítulo aqui no Paraná – mas a história dele foi muito difícil – tudo artesanal, todo mundo contra, ninguém dava “bola” pra gente. Até que o Paranacolpo disparou. Resultado do trabalho integrado Tudo foi a soma do meu trabalho com o do Ricardo, Monica e Dulcimary. Sabemos o passo a passo disso aqui.

Dr. Ricardo Rossi Cardoso

Dra. Mônica Valéria Vertuan

Dra. Dulcimary D. Bittencourt